Calhou, certa vez, de eu dar aulas em P.L.. Em P.L. só tem uma escola de ensino médio. Portanto, vem gente de tudo que é lado: desde o mais remoto interior até o centro mais desenvolvido.
Pois bem, eu cheguei daquele jeito, tipão cabeludo com camiseta de banda, e notei que uma galera meio que se interessou pelo estereótipo. Não que se interessassem, cem por cento, no sentido de achar legal, mas rolava um estranhamento divertido.
(Está cada vez mais raro encontrar a espécie cabeludus pretóides por aí, vamos relevar!)
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Eis que entrei numa turma de sétimo ano e saquei um guri com uma jaqueta de couro. Estilosa, a peça! Ele não deveria ter mais do que 13 anos, e vestia uma jaqueta de couro. Em P.L.!
Estranhei...
No final da aula ele veio na minha e disse: “e aí Professor, tu já ouviu a música shoushainoushai do Gãnziz?”
(Numa tradução livre, significa, Sweet Child O’ Mine, do Guns and Roses!)
Saquei a do guri!
Longe de me atrever a fazer tal correção fonética, eu disse que sim, que conhecia, mas não era muito fã... O papo foi indo até a sala dos professores quando o guri apertou a minha mão de um jeito esquisito. O cumprimento, notava-se, era uma forma peculiar de um grupo específico do local. Tinha toda uma parada que eu estava sendo inserido sem me dar conta.
Eu entrava pra turma dos rockeiros de P.L.!
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Quando o aluno se identifica com o professor, rola uma cumplicidade extraclasse que configura os bastidores como um local de aprendizado. E é muitas vezes que é ali, nos bastidores, que a coisa faz mais sentido... Além disso, a confiança fora das quatro paredes da sala facilita o convívio do lado de dentro. Mas para que isso aconteça, também é necessário um esforço de compreensão do outro, ou o que costuma se chamar de exercício de alteridade.
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Entender o outro é uma tarefa constante. Na escola isso é fundamental. Mais do que tentar entender o sujeito em si, compreender as nuances de cada grupo é vital para uma boa convivência.
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Na aula seguinte, no sétimo ano, eu e o meu aluno sabíamos: havia dois rockeiros na turma!