Eu tenho um grande amigo, o V., que tem um café/livraria e que vive disso já há algum tempo.
Com a possibilidade de comprar livros pela internet, nós os consumidores tendemos a optar pelo melhor preço e consequentemente dificultar a vida dos caras tipo o V., que se vira nos trinta pra manter a coisa funcionando.
Curiosamente, eu comprei apenas um livro pela internet em toda a minha vida de leitor...gosto de ir nas livrarias e conversar com as pessoas...
Não curto o kindle, mas acho uma boa opção para quem não quer – e não pode – carregar livros pra lá e pra cá...
Mas, isso é uma outra história...
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O lance é que eu dava aulas numa escola pública em T. C. no RS e propus aos alunos a leitura de um livro por trimestre. Isso lá pelos anos de 2011/12, antes da explosão do smartphone. Como o estado não iria bancar a coisa toda, os alunos teriam que desembolsar a grana referente aos livros. Eles compraram – os livros e, em geral, a ideia da leitura!
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Aí é que entra o meu amigo V.. O cara organizou a parada e encomendou os livros da gurizada. Lembro de ter ido buscar as caixas cheias de obras tipo “O Chamado da Floresta”, do Jack London (usava ele nas aulas de pré-história), “De pernas pro ar”, do Galeano (encaixava bem na história do Século XX) e “Cândido, ou o otimismo”, do Voltaire (para discutir o Iluminismo).
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Antes da coisa acontecer, eu pensei: é um jogo do ganha-ganha: meus alunos irão ler bons livros, eu irei discutir com eles grandes ideias e o meu amigo da livraria vai ganhar uma grana pra manter seu empreendimento funcionando.
Esse é o espírito: um jogo em que todos saem ganhando!
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O que eu não esperava era uma vitória retroativa!
Meu ex-aluno L. me mandou uma mensagem no Instagram dizendo que não leu o livro na época da escola, mas que leu ele agora, nos intervalos que tinha durante o almoço. Agora, ele mais maduro, fez outro tipo de leitura e ouviu melhor O Chamado da Floresta!
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Pensa na alegria deste professor cabeludo!
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Essa vitória é coletiva: minha, do L. e do V., meu amigo que há mais de sei lá quantos anos não desiste e continua vendendo livros.
Curte essa, V.!