A parada é a seguinte: o papo da vez era poesia. A turma, oitavo ano. Treze anos, em média... bom, é um desafio falar sobre um tema tão complexo com uma turma tão jovem, você pode pensar. Nem sempre. Depende muito da abordagem.
Eu usei a seguinte: convidei os alunos para dar um rolê pela escola. Quer dizer, antes disso eu estabeleci uma regra primordial: o silêncio. Ninguém poderia falar nada durante o trajeto. Então o rolê...
Algumas sugestões importantes: a galera teria que tentar fazer duas coisas: prestar atenção em detalhes que nunca tinham percebido e ao mesmo tempo cutucar alguns sentidos – justamente para que aqueles detalhes pudessem “aparecer” (ouvir melhor os sons, aguçar mais o olfato, ver as coisas mais de perto, etc...).
Depois de feito o rolê, voltamos para a sala. Sugeri, então, que voltassem para o trajeto que tinham feito e fotografassem alguma coisa na escola que eles tivessem visto, ouvido, sentido o cheiro, de forma diferente. Essa imagem seria a inspiração para a escrita de um poema.
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A primeira intenção era despertar esse novo olhar para o mundo, aparentemente, conhecido. O cotidiano invisibiliza muitas coisas. A rotina é arbitrária e a arbitrariedade, restritiva. Quebrar esse “protocolo”, é mais ou menos um dos papéis da poesia. A poesia revela um mundo desconhecido, com uma linguagem sofisticada e – a palavra-chave – subjetiva.
A partir da experiência sensorial, observando a escola com um olhar novo, a abordagem teve como objetivo despertar a subjetividade – pelo ponto de vista teórico, digamos assim – e a produção de poemas – pelo ponto de vista prático.
Pois bem...
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A aluna A. escreveu o poema da imagem.
Eu nunca tinha olhado para o esqueleto desta forma.
E a poesia se fez!